“Fake News” Chegam aos Outdoors?
Numa época em que as fake news são cada vez mais recorrentes e cada vez mais bem feitas, é importante sabermos, claramente, em que fontes podemos confiar e que já fazem uma filtragem do que é real e o que é falso/enganador.
Para este texto iremos dilatar o conceito de fake news, passando para lá de notícias falsas e indo até a anúncios/publicidade enganosa.
Atualmente, grande parte da população já está alertada para não acreditar em tudo o que vê e lê na internet, isto porque é um meio que democratizou por completo a capacidade de criação e partilha de conteúdo, mas, ao mesmo tempo, não assegura a credibilidade e veracidade do mesmo, ou seja, não existe um mecanismo de verificação/fiscalização que seja capaz de responder ao fluxo de informação gerada diariamente.
Os meios de comunicação offline, como o Out-Of-Home, ainda são vistos como fontes de informações credíveis e seguras, não só porque estão “no mundo real” e por isso há mais filtros de controlo, nem que seja o simples facto de haver uma troca de dados que permite rastrear eventuais fraudes, mas também porque os valores para se comunicar nos meios offline (radio, tv, imprensa, outdoors) são mais elevados do que para fazer comunicação online. Ainda assim, só em 2020, foram denunciados pelo menos 20 casos de publicidade enganosa em Portugal.
“Fake it until you make it” é a base de qualquer fraude, segue a linha do “é mais importante parecer do que ser” e é um ponto que deve ser tido em conta cada vez mais, por nós operadores de meios, vistos como fontes credíveis. Quem cria um esquema fraudulento, seja uma simples notícia falsa ou uma burla mais elaborada, tem como principal preocupação e objectivo, fazer com que a mesma pareça o mais real possível, que não levante qualquer suspeita.
Recentemente, deparámo-nos com um caso grave de partilha de informação falsa. É grave por dois motivos. O primeiro prende-se com o facto de, não se tratar “apenas” de jogos de sintaxe, comuns na publicidade, mas sim de uma premeditada transmissão de informação falsa. O segundo motivo, tão ou mais grave que o primeiro, diz respeito à origem da fonte de informação, a Câmara Municipal de Lisboa.
A União Zoófila (UZ) acusou na terça-feira passada a Câmara Municipal de Lisboa de divulgar informação falsa num outdoor colocado durante a tarde de segunda-feira, perto do actual abrigo da UZ, com sede no Alto das Furnas, em Lisboa
O cartaz anuncia um novo abrigo para cães e gatos e associa a União Zoófila e a Associação Focinhos e Bigodes à iniciativa. Porém, de acordo com a denúncia publicada na página do Facebook da associação, a informação “utiliza abusivamente o nome da União Zoófila, sem o seu consentimento, e transmite a ideia, falsa, de que foi acordada a sua relocalização, ou seja, a destruição do seu abrigo localizado em Sete Rios há 70 anos”.
Segundo a associação, houve uma manipulação da informação, sendo esta “uma estratégia abusiva” levada a cabo pela Câmara de Lisboa. Na publicação pode ainda ler-se que o outdoor foi “uma represália à recusa da associação em assinar um protocolo de intenções com a Câmara de relocalização do seu abrigo, sem conhecer e acordar previamente as condições físicas, funcionais e jurídicas em que a relocalização teria lugar e as condições de segurança e saúde para as pessoas e para os animais do local em questão”
No próprio dia da colocação do cartaz, a UZ solicitou ao município a sua remoção imediata — exigência essa, entretanto cumprida. A Câmara de Lisboa retirou do outdoor e reconhece que a colocação do outdoor terá sido indevida.